A fé e os ateus

Dom Sinésio Bohn
Bispo de Santa Cruz do Sul

A revista IstoÉ (25/02/2004) traz o estudo do governo britânico para colocar o ateísmo como disciplina escolar. Lembra a opinião do filósofo Bertrand Russel de que a concepção de Deus é “bastante inválida para homens livres”. Além disso, para o pensador, “as religiões não só prejudicam, como são falsas”.

Lembro-me de um fato contado pelo falecido Dom Luís De Nadal, bispo de Uruguaiana e piloto de avião. Certa vez, Dom Luís viajava de Porto Alegre a Passo Fundo. A seu lado ia um senhor culto que lhe disse: “Sou ateu. Não acredito em Deus, nem participo de nenhuma atividade religiosa”. De repente o piloto avisou: “Há pane no avião. Faremos uma descida de emergência. Rezem para que encontremos lugar adequado para o pouso”. Nosso ateu pediu a Dom Luís: “Por favor, absolva-me de meus pecados. Creio em Deus, sim”.

No Brasil os ateus como o do avião somam cerca de 13 milhões. São de fato “agnósticos”, isto é, sem religião, não comprometidos com nenhuma fé. Este número está em ascensão.

Diante deste fenômeno, antes de condenar os “incréus”, as religiões devem fazer um exame de consciência. Pessoas religiosas dando apoio a atos de violência, justificando até guerras, segundo João Paulo II, “blasfemam contra Deus”. Ou, como diz o Catecismo Católico, “mais escondem do que manifestam o rosto autêntico de Deus e da religião” (nº 2125).

As pessoas tidas como religiosas, que não defendem os direitos humanos, não promovem valores da paz, da solidariedade e de uma civilização do amor, mas que vivem de forma individualista e formalista, de fato falseiam o cristianismo.

Doutro lado, o conhecido teólogo francês Jean Danielou observou: “O homem de hoje conhece tudo, todavia não se conhece a si próprio, que é mais que tudo”. O comunismo ateu eliminou milhões de seres humanos, usando como critério a conveniência do poder. Sem referência ao absoluto, o que tem sentido, o que tem valor? Um vago humanismo sem Deus é verdadeiro humanismo? A ética sem Deus não se reduz facilmente à defesa dos próprios interesses? Num mundo sem escala de valores, o que ainda faz sentido?

Deus existe. Em Jesus Cristo, pela graça, a pessoa atinge sua plenitude. Fica mais gente, mais humana. Sabe-se amada, insere-se numa comunidade de pessoas, sem perder sua individualidade. Torna-se, segundo o apóstolo Pedro, “pedra viva” de um povo, cuja lei é o amor. No seu íntimo vive o Espírito formando e consolidando seu coração. Sua mola propulsora é a fé, que é dom, não obrigação. E a firmeza em Deus gera a esperança, a alegre esperança dos filhos de Deus. É muito bom crer em Deus!

Disponbilizado pela CNBB em 4/3/2004

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