UM AMOR QUE ME CONSOME…

Deus vos salve casa santa, onde Deus fez a morada, onde mora o cálice bento e a hóstia consagrada… 

     Quando eu tinha medo de alguma coisa, minha mãe me ensinava uma história que se parecia com o problema que eu estava passando, e eu sentia meu coração se acalmar, foi assim na primeira tempestade que me lembro de ter passado, então ela me contou a história de Santa Bárbara e me ensinou uma oração que nunca esqueci: Santa Bárbara foi andando pelo caminho e se encontrou com Nosso Senhor, Nosso Senhor perguntou, onde vais Bárbara Virgem? E ela disse: Senhor vou para o céu, abrandai esta tempestade, e Jesus a atendia… Meu pai então pegava um prato acendia uma vela, e usando a palha abençoada no Domingo de Ramos, a queimava rezando de joelhos conosco, pedindo para a chuva ser branda, e como era mesmo da fé, o milagre acontecia, então a chuva ficava suave e eu não tinha mais medo, enquanto minha mãe explicava que São Pedro já estava acabando de lavar o céu e já tinha terminado de arrastar os móveis para o lugar, por isto não havia mais trovão… aprendi que todo aquele que pede recebe, e todo aquele que crê vivencia o céu, e eu ainda não lia a Bíblia. Então, minha mãe me ensinou a cantar: "Mãezinha do céu, eu não sei rezar…" E assim, cada vez que eu tinha alguma dificuldade eu cantava. E confiava que mesmo não sabendo rezar Nossa Senhora apresentava minha oração a Deus… eu já rezava e nem sabia…

    Todas as manhãs, ao me ensinar o serviço doméstico, minha mãe ao colocar uma cruz com Cristo crucificado na cabeceira da cama, ela rezava uma oração que havia sido ensinada por sua avó, e ela me ensinou a rezar, e nem saberia dizer quantas vezes a fiz… Minha avó me ensinava a saudar a cada Igreja por onde passávamos dizendo: Deus vos salve casa santa, onde Deus fez a morada, onde mora o cálice bento e a hóstia consagrada…

    Naquela época não podíamos ler a Bíblia, o catolicismo era assim, mas na casa de minha avó tinha uma muito grande… passava as férias com ela, como era na roça e não tinha como ir à missa, no domingo de manhã, todos nós nos arrumávamos como se fôssemos à Igreja e num disco de vinil da Missa de Aparecida do Norte, "participávamos" da Santa Missa… como minha vó queria ouvir mais de Deus, ela que aprendera a ler sozinha na Bíblia e já tinha ensinado muita gente a ler, me pedia para que em voz alta eu contasse o que estava escrito… me apaixonei pela Bíblia…

     Assim, fui crescendo numa família de fé simples, que me ensinava a Bíblia sem que sequer a tivessem de fato lido, mas a viviam…

   Os anos se passaram, eu então não era a menina dos serviços domésticos aprendidos, mas uma profissional responsável por meus atos e palavras… usando tudo o que a vaidade pode alcançar… um dia numa audiência em que meu cliente, um católico bom e honesto estava sendo acusado de falsificar a assinatura do seu empregado, o que não era verdade, o advogado da outra parte disse assim: "Também sendo católico, o que se pode esperar…" Naquele momento, do alto do meu 1,73m com mais 15cm de salto me levantei e olhei para o homem que tinha cerca de 1,65m fixamente, acho que se meu olhar fosse de laser não teria sobrado pó, e disse: "Quem te deu o direito de colocar a minha Igreja desta forma? Eu não lhe dou a liberdade de falar sobre a Igreja Católica. Eu sou católica e não admito piadas ou comentários sobre a minha Igreja." O homem chocado com minha atitude quis arranjar uma forma de reverter o que tinha dito, afirmando que ele, a mulher e a filha que estavam diante de mim e me fulminavam e de meu cliente estupefato que tinham se "encontrado", como se tivessem se perdido antes e não agora. No fogo que me consumia eu reafirmei com convicção: "Eu sou católica e que isto encerre este assunto ou ele se tornará mais sério do que o senhor pensa" Assim, encerramos a discussão e provamos que meu cliente era realmente um católico bom e honesto.

     Os anos se passaram, muita coisa aconteceu… acerca de dois anos ao passar num concurso fui enviada a uma outra cidade. Lá chegando havia uns dois dias, e eu sem o que a vaidade alcança, aparentando tanta simplicidade que me perguntaram se eu era franciscana, embora não vestisse nada parecido, exceto pelo tau que trago no pescoço há muitos anos, por conta de um acordo com São Francisco… Um senhor que sempre estava lá pelo local do trabalho, muito falante, parecia dominar o ambiente, sabendo que eu era católica, resolveu contar uma piada de padre para os outros rirem, porque imaginou que eu não o fizesse, o que eu pacientemente ouvi até o fim, embora minha vontade fosse outra, mas Jesus é manso e humilde de coração, precisava domar meu temperamento… quando ele acabou, olhei muito séria para ele e combati frase por frase do que deveria ser motivo de riso, todos ficaram quietos e contei o mesmo fato colocando a questão como alguém de outra "suposta religião", e mostrei a ele que não tinha a menor graça e realmente ele não achou graça nenhuma, e então eu disse: Sou católica por amor e toda a convicção de minha alma e dos meus anos de estudo, não ignoro a fé que tenho, mas respeito a crença dos outros, portanto, o senhor pode contar piadas sobre a sua religião, mas não fale sobre a minha, porque não lhe dei liberdade para isso, e devo adverti-lo que paga uma conta muito alta quando morre, quem ousa falar de padre, e como sei o que está na Bíblia, é meu dever avisá-lo, porque assim fiz a minha parte, se o senhor não a acolher, isto é entre  sua alma e a ira do Senhor. Ele então, muito sem graça, disse que de vez em quando até ia a umas missas, mas que na verdade era evangélico e desapareceu lá do trabalho, até a data que eu fui transferida o vi poucas vezes e sempre me tratava com muito respeito. O responsável lá do trabalho, que me recebeu na época, me disse que estava aliviado porque alguém tinha tido a coragem de fazê-lo parar de criticar o catolicismo de forma tão vil… não o fiz com qualquer intenção que não fosse de não deixarem falar mal da Igreja que amo.

    Hoje quando sei que alguém deixou a Igreja me entristeço, penso no pouco que terá aquele que deixa de ter Jesus na Eucaristia Vivo… ter uma Mãe Maravilhosa no céu… irmãos em comunhão de santos… Anjos fantásticos e amigos… mas na oração tudo podemos, e eu acredito nisto, por isto rezo e insisto com Deus pela conversão dos pecadores ao catolicismo e o fortalecimento de nossa Igreja.

    Ainda tenho muita luta para entenderem que ser católico é uma questão de amor, uma atitude que é necessária.

    Sou louca, apaixonada pela Igreja Católica, eu sei que tem erros, eu os conheço, por isto a amo, porque posso rezar e muitas vezes me encaixar neles e receber os tesouros dos sacramentos, da liturgia, da Palavra. Amo a Igreja Católica de maneira alucinante, ainda que eu não esteja com camisa alguma, está entranhada na minha carne, no meu sangue, no meu coração, na minha mente, lateja no meu corpo, que muitas vezes exausto ainda caminha para vê-la exaltar a Ssma Trindade, em Maria, nos seus santos e anjos…

    Ser católico é ser universal, é olhar os santos nos altares e compreender como é no céu… é ver Jesus crucificado, escândalo para os que se perdem, mas dom e salvação para os que compreendem… é ver um sacerdote erguer as mãos em palavras miraculosas e o céu inteiro descer sobre a terra… isto é tão forte para mim que não contenho lágrimas diante de minha miséria na condição de pecadora, eu ter tido o privilégio e a honra por parte do Senhor, de ser católica! Agradeço a Deus de todo coração. Vou confessar-lhes algo, quando vou ao Ssmo para falar com Jesus algumas coisas, sempre o agradeço por ser católica e por Ele ser o meu Deus na Eucaristia, que foi a forma que eu escolhi para melhor amá-lo, é naquele aparente pão que está o Senhor da minha vida, o amado de nossas almas…

    Decidi escrever sobre isto para que meus amigos pudessem repensar também porque são católicos, e assim juntos fortalecermos nossa fé… o que temos feito por nossa Igreja, qual diferença que tem feito a nossa fé? A quantos anunciamos a Boa Nova? Tenho me feito esta pergunta, e gostaria muito de alcançar uma boa resposta quando for me encontrar com Deus e poder vê-lo sorrir…

Janaina

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