Onde estava Deus durante o “tsunami”?

A tragédia causada pelo «tsunami» no sudeste asiático e África arroja três lições: a precariedade do ser humano, a exigência de solidariedade, a necessidade de conversão; considera o editorial do último número da revista La Civiltà Cattolica.

Em última instância, estas três lições são a conseqüência da resposta à pergunta que muitos se fizeram ante a catástrofe: «E Deus, onde está em tudo isto?», escreve a revista da Companhia de Jesus cujos projetos são revisados pela Secretaria de Estado vaticana.

«Antes de tudo há que dizer que ver um castigo divino nas catástrofes naturais pelos pecados dos homens é um erro, que põe em questão Deus tal e como foi revelado por Jesus no Evangelho», afirma.

«Deus é um Pai que cuida providencialmente de todos seus filhos, que perdoa seus pecados, em particular, cuida dos pobres, dos pequenos, e não abandona quem sofre», reconhece.

«Sua providência consiste no fato de que Deus sabe tirar o bem para os homens inclusive das situações mais dolorosas e trágicas em que colocam os acontecimentos desastrosos da natureza, assim como sua maldade e falta de sabedoria», indica.

«A maneira como isto acontece é para nós um grande mistério», reconhece o editorial, «mas, precisamente porque Deus é bom temos de pensar que não permitiria estes fatos dolorosos e trágicos, se não fosse capaz e não tivesse a intenção de tirar do mal o bem para os homens», assegura.

«Precisamente porque Deus é justo temos de pensar que a providência amorosa de Deus é maior para os humildes, os pobres e as crianças inocentes», acrescenta.

«Deus, em sua ternura paterna, estava perto de cada uma dessas crianças e as salvou em seu Reino», assegura.

Esta consideração leva a revista a tirar três lições para os homens e mulheres contemporâneos.

Em primeiro lugar, esta tragédia «deve recordar-nos a condição de precariedade na qual se desenvolve a vida do homem sobre a terra».

Esta constatação, sugere, deve levar a evitar a tentação que propõe «o orgulhoso sentido de onipotência que alguns cultivam no mundo de hoje, seguros de que o homem, com os impressionantes poderes do progresso científico, poderá derrotar as forças do mal que podem acabar com seu bem-estar, sua saúde e sua vida».

Em segundo lugar, a tragédia do sudeste asiático «deve ser um chamado à solidariedade», sugere a revista mais antiga das que se publicam na Itália. «O verdadeiro problema dos países atingidos pelo “tsunami” é o da reconstrução».

Mas, «infelizmente –acrescenta–, não se movem nesta direção a ciência e a técnica», denuncia.

«Basta pensar nas imensas somas de dinheiro que poderiam servir para dar comida e educação aos milhões de pessoas que morrem de fome e para curar enfermidades, como a aids, que corre o risco de destruir todo um continente como África, e que contudo são gastas pela busca e a construção de armas cada vez mais terríveis e mortíferas, como se não fossem suficientes os imensos arsenais de armas nucleares que já existem e que poderiam destruir muitas vezes o planeta».

Por isso, em terceiro lugar, este desastre constitui um chamado à «conversão», explica, citando Jesus no Evangelho (o acidente da torre de Siloé).

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.

error: Content is protected !!