Comunicadores corruptores

Na semana passada falei da crise da família, que ameaça causar a decadência geral da nação. É importante descobrir as causas deste mal, para indicar o remédio.
    Eu observo esta evolução nos relacionamentos humanos. No século passado foram inventados e se difundiram em todos os lares e lugares públicos, os meios de comunicação de massa: fotografia, cinema, rádio, TV, jornais, revistas… Isso revolucionou a comunicação.
Antes prevalecia a comunicação direta de pessoa a pessoa. Quem fazia a cabeça das novas gerações eram os familiares (pais, avós, tios), depois os mestres da aldeia, conhecidos e controlados pelas famílias. Quem falava a todo o povo no domingo era o sacerdote, em todas as religiões, formando a opinião publica das comunidades.
            Todos estes comunicadores estavam interessados na boa educação das novas gerações e na união das famílias, defendendo os valores da honestidade, justiça, respeito recíproco. Todos se conheciam entre si e, se alguém desgarrava, era logo desmascarado e repreendido.
            Com a explosão dos meios de comunicação de massa, tudo isso mudou. Quem hoje faz a cabeça de grandes e pequenos são estes meios. Os pais saem de casa para trabalhar e as crianças passam horas e horas diante da TV; os adolescentes completam com a internet; os jovens e adultos passam boa parte do tempo livre diante da TV, ou lendo jornais e revistas.
            Os donos destes meios de comunicação não visam a educação dos usuários, mas o interesse próprio: ganhar mais dinheiro, que depende do ibope. Descobriram que as notícias sensacionais, até escandalosas, os espetáculos picantes, a exibição do sexo estimulam a curiosidade mórbida, aumentando a audiência e então o lucro!
            A massa dos usuários destes meios não tem espírito crítico, nem tempo pára refletir: vendo todo dia cenas de violência, infidelidade conjugal, futilidades, se convence que todo mundo é assim, que é normal fazer dinheiro com qualquer expediente, brincar de sexo, divorciar, abandonar os filhos. O importante não é ser bom, honesto, casto; o importante é aparecer, tirar vantagem: não importa em que modo.
            Como impedir a expansão desta decadência dos valores? Não é fácil!
            Um exemplo poderia oferecer algumas pistas. Até alguns anos atrás havia liberdade de propaganda do fumo. Na medida em que apareceram os danos à saúde provocados pelos cigarros, houve processos para responsabilizar as firmas produtoras, condenando-as a pagar multas pesadas. Os produtores e comerciantes, tocados no bolso, recuaram. Formou-se uma opinião pública que fumar não é bonito, mas feio, e prejudica a saúde. As autoridades tomaram coragem e publicaram normas proibindo fumar em muitos lugares públicos.
            Um combate eficaz contra os comunicadores que atentam aos valores fundamentais da sociedade poderia seguir o mesmo caminho: tocar no bolso dos que ganham deformando as pessoas. Por exemplo: Pais que, ajudados por psicólogos e advogados, responsabilizam criminalmente os comunicadores pelos danos causados aos filhos por espetáculos, fotos, novelas.
            Alguns processos bem sucedidos despertariam a opinião pública, encorajando as autoridades a emanar normas reguladoras mais severas. Tocados no bolso, os comunicadores mais levianos ficariam com um pé atrás, e os mais responsáveis seriam encorajados.
            É um caminho lento, não resolve tudo, mas ajuda. É importante começar.
            Claro que as pessoas de boa vontade devem indicar os programas sadios, denunciar os negativos, tendo a coragem de falar claro.
 
Pe. Pio Milpacher
Congregação de Jesus Sacerdote
Osasco – SP

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