O “Mistério” do Opus Dei (1)

Envio-lhes artigo de Margarida Hulshof publicado no jornal O Lutador. São 4 artigos e podem ajudar a que a verade brilhe melhor sobre essa tão querida instituição da Igreja.                                       O  “MISTÉRIO”  DO  OPUS  DEI

 

O que é a OPUS DEI? Que mistério é esse que a nossa Igreja esconde sobre esta instituição?                                                                   (Wagner Souza Ferreira – Betim/MG.)

 

Gostaria que você comentasse sobre esta reportagem que eu li na Internet.
                                                                                                       (Daniel Pinto – Goiânia/GO.)

 

            A referida reportagem, escrita por Oscar Pilagallo (editor da revista EntreLivros), com o título: “O código Opus Dei”, é um comentário ao livro “Opus Dei – Os Bastidores”, recentemente lançado por três ex-integrantes do Opus Dei, instituição fundada por São Josemaria Escrivá.            Os autores foram entrevistados pela revista ÉPOCA – edição nº 389, de 31 de outubro de 2005 – e deve ter sido essa matéria que motivou a pergunta do outro leitor.
            Dificilmente terá sido mera coincidência o fato de que tal livro tenha surgido num momento em que está “na moda” falar mal do Opus Dei, como repercussão ao sucesso mercadológico de “O Código da Vinci”, de Dan Brown. Embora não se possa afirmar que os autores tivessem como principal objetivo obter uma fatia desse “filão”, aproveitando a propaganda gratuita para o seu “peixe” (a exemplo do que tem acontecido com os temas épicos e mitológicos, exaustivamente explorados no cinema e na literatura, na esteira de “Harry Potter” e de “O Senhor dos Anéis”), é provável que tenham, ao menos, pensado em aproveitar a oportunidade, já que a opinião pública se encontra, no momento, favoravelmente predisposta a acolher com interesse o seu desabafo.
            Uma estratégia de propaganda que costuma dar resultado é criar um clima de “segredo”, anunciando a revelação de mistérios até então ocultos. Quanto mais “proibidas” as revelações, mais sucesso fazem. Esse clima é sugerido, no título do livro, pela palavra “bastidores”, e é com base nela que a revista ÉPOCA traça a linha-mestra de sua reportagem. Deve ser isso que sugeriu ao leitor a idéia de algum “mistério” que a Igreja estaria “escondendo”.
            Na verdade, não há mistério algum. Se a Igreja é portadora dos “Mistérios” da fé (que não são “mistérios” por serem ocultos, mas sim por estarem relacionados à realidade sobrenatural de Deus, que ultrapassa a razão humana, embora passe por ela), estes não lhe foram revelados para que os esconda, mas sim, ao contrário, para que os anuncie a todos (Mc 16,15) e os proclame “de cima dos telhados” (Mt 10,27). Jesus, luz do mundo, não confia essa luz aos apóstolos para que a escondam “debaixo de uma vasilha”, mas, ao contrário, para que a coloquem num candelabro, a fim de que possa iluminar o caminho da humanidade (Mt 5,14-16).
            O Evangelho está aí, ao alcance de todos, em todas as línguas e em toda parte. Se alguns, apesar disso, não o conhecem, ou se, mesmo conhecendo, não o praticam, certamente não é por falta de divulgação – embora haja, sem dúvida, alguns servos medrosos que preferem “enterrar” os talentos que lhes são confiados.
            Qualquer cristão sabe (ao menos em teoria) que é chamado à santidade, ou seja, a viver em comunhão com o Deus que para isso o criou. Se os métodos do Opus Dei parecem anacrônicos ou absurdos em sua radicalidade, eles só são radicais na medida em que o Evangelho também o é; e só são “escândalo” e “loucura” na medida em que a cruz de Cristo também o é (1 Cor 1,23).
Se a santidade pode parecer algo irreal e sem sentido para muitos, isso não muda o fato de que é esse o convite que Jesus nos apresenta (1 Pd 1,15-16; Mt 5,48). E, se é compreensível que as pessoas sem fé considerem o assunto como uma excentricidade exótica ou paranóica, nós, que nos consideramos seguidores de Cristo, deveríamos pensar duas vezes antes de concluir que a questão não nos diz respeito…
Segundo os artigos, o livro tem um caráter de “denúncia”, seria um “alerta” destinado a advertir pais e jovens quanto aos “perigos” do Opus Dei, sugerindo a idéia de procedimentos suspeitos ou condutas inconfessáveis. Mas, afinal, qual seria o “crime” do Opus Dei?
Assim como Jesus foi condenado pelo “crime” de defender o amor, a verdade, a justiça e a fidelidade a Deus, o Opus Dei está sendo condenado pelo “crime” de incentivar em seus membros a busca da santidade… Isso exige, naturalmente, que a busca da santidade seja apresentada de forma a parecer um delito, merecedor de condenação, como também foi feito no julgamento de Jesus.
Para conseguir esse efeito, nem sempre é preciso mentir. Se “O Código da Vinci” continha, realmente, muitas inverdades, no caso dos “Bastidores” a técnica empregada é, simplesmente, apresentar coisas boas de forma a dar-lhes uma aparência negativa.
Jesus foi acusado de declarar-se Rei e filho de Deus, bem como de ter prometido reconstruir em três dias o templo destruído. Não se pode dizer que fossem acusações falsas, pois Jesus realmente disse tudo isso. O erro dos acusadores foi, por não terem sido capazes de compreender (ou de aceitar) o sentido das palavras de Jesus, considerarem como “blasfêmia” o que era verdade, ou como mau e nocivo o que era bom e benéfico.
É o que acontece no livro “Opus Dei – Os Bastidores”: os métodos descritos são reais, mas apresentados a partir de uma interpretação deturpada. As principais “acusações” levantadas são três, assim descritas no subtítulo da reportagem de ÉPOCA: “Ex-membros contam em livro os bastidores de autoflagelação, manipulação mental e estratégias de poder da prelazia católica”.
            Vejamos, em primeiro lugar, a questão que mais parece chocar as pessoas, que é a da “autoflagelação” ou mortificação corporal.
            Penso que acontece, aqui, a mesma distorção de visão a que me referi, tempos atrás, ao comentar o filme “A Paixão de Cristo”, que a crítica acusou de “violento”. Em minha opinião, o que torna chocantes certas cenas do filme não é a violência, uma vez que estamos acostumados ao contato com ela em qualquer noticiário de TV, bem como em revistas, jornais ou filmes que muitos pagam para assistir. O que realmente choca na Paixão de Cristo é o amor… Porque podemos compreender a violência gerada pelo ódio, mas não aquela voluntariamente aceita e suportada por amor, em troca de nossas culpas.
            Da mesma forma, ao ouvir falar em “autoflagelação”, o que nos escandaliza não é (ao contrário do que pensamos) o sofrimento ou a dor física suportada, porque estamos acostumados a suportar incômodos semelhantes e até piores em nome do culto a outros “deuses”, tais como a vaidade, a moda, o “status” ou mesmo a saúde. Sem reclamar (ou apesar de reclamar) suportamos piercings, tatuagens, horas de malhação ou regimes de fome, roupas e calçados muitas vezes desconfortáveis, arriscadas cirurgias plásticas de recuperação sempre dolorosa, e até o radicalismo das cirurgias de redução do estômago. E tudo isso nos parece normal e aceitável… talvez porque traz, em troca, alguma compensação.
            Na verdade, também a mortificação cristã é praticada em vista de uma compensação. Se assim não fosse, seria de fato algo patológico, seria masoquismo, como parecem considerar os que não conseguem enxergar ou entender essa “compensação”.
            O que torna a mortificação corporal incompreensível é o fato de ser expressão do culto e do amor a um Deus que não nos parece tão atrativo quanto os ídolos do mundo. A compensação esperada é a paz interior, o domínio da vontade sobre os sentidos, a força de caráter, a intimidade com Deus e a promessa de uma felicidade eterna. Como não compreendemos o valor desses bens, julgamos loucos aqueles que neles investem… e o que nos escandaliza, então, não é o sofrimento em si, mas sim a sua aparente inutilidade.
            Com a visão assim distorcida, passamos a considerar tais práticas como uma aberração, esquecendo que são, simplesmente, o Evangelho levado a sério e assumido em sua radicalidade original. Já no início de sua pregação Jesus nos convidava a fazer penitência, a renunciar a nós mesmos e a segui-lo no caminho da cruz. O apóstolo Paulo nos exorta a treinar o corpo para a luta, submetendo-o como a um servo, para que não seja tentado a tornar-se senhor, dominando sobre a mente e o espírito. Todos conhecemos essas palavras… mas preferimos desconsiderá-las, ou lhes damos uma interpretação que, de tão atenuada, acaba por não significar coisa alguma.
            Continuaremos tratando desse assunto na próxima edição.

 

                                                                                                                        (novembro – 2005)

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