A riqueza embaçada

A vida religiosa feminina está em ritmo de marcha lenta (ver estatísticas da Santa Sé). Alguns agrupamentos, no entanto,  rompem essa rotina de letargia, buscando ver “o que o Espírito diz às Igrejas” (Ap 2, 7). Partem para um decidido esforço de renovação da vida consagrada. Visam servir aos homens e às mulheres dos tempos pós-conciliares. Assim superam de longe a pura preocupação, tão em voga, pela ordenação sacerdotal das mulheres. O tema, aliás,  seqüestra todas as atenções. “Marta, você se preocupa com muitas coisas” (Lc 10, 42).  As Religiosas que ouviram a voz do esposo, buscam o essencial do discipulado de Jesus. Sua atenção se fixa no Mestre que ensina: “Uma só coisa é necessária. E Maria escolheu a melhor parte” (Lc 10, 42). Olhando as estatísticas, com seus números objetivos, que atestam a diminuição progressiva das vocacionadas,  pode-se verificar que, em muitas áreas,  as máquinas estão trabalhando em “ponto morto”. Nada se move. Em palavras claras, é a estagnação. As moças católicas, em sua imensa maioria, deixaram  de considerar a vida consagrada como um estado privilegiado de viver o seguimento de Cristo.
De onde viria  tal resultante? Uma resposta, tão fácil quanto ineficaz,  seria culpar o “atraso mental” da autoridade eclesiástica, em tolher sistematicamente a ascensão das mulheres à ordenação sacerdotal. Isso retrairia as vocações femininas  da vida religiosa. Seria uma razão verdadeira? Ou tal conversa  prolongada (a perder de vista), seria apenas um álibi para ganhar tempo, e assim jamais ter tempo  para  se definir sobre o fundamental? Essa discussão sobre ordenação feminina,  pode muito bem continuar uma questão aberta, sobretudo por precisar de uma melhor iluminação teológica. Mas seria apenas um assunto secundário. O tema principal é outro. É preciso responder à pergunta: “O que vocês estão procurando?” (Jo 1, 38). Deve-se atender o convite do Mestre, em profundidade: “Vinde e vede” (Jo 1, 39). Portanto, o grande problema não é o da ordenação. É a questão do discipulado.
O Concílio ensinou que matrimônio e vida consagrada, são apenas duas faces diferentes da mesma moeda. São vocações diferentes, que vem do alto. Mas ambas vem do mesmo Espírito Santo, e são formas de vida alternativas para atingir a santidade. Embora por caminhos opcionais. Estas duas vocações têm uma misteriosa correlação recíproca. O valor que se confere a uma delas, tem ressonância sobre a outra. Assim se tornam um auxílio mútuo. Ou um prejuízo recíproco. Os casados, a par de levarem em alta consideração sua própria vocação matrimonial, de bom grado se prestam a  favorecer a vida consagrada. E vice versa. As almas consagradas, dedicando-se mais plenamente ao Senhor, apóiam a instituição familiar. Agora, aqui entra um curto-circuito. O matrimônio, por muitos, não é mais considerado um chamado para a santidade de vida. Muitos cristãos estão perdendo a mística do casamento, que São Paulo chama de “grande” (Ef 5, 32),  e a nova geração insiste em chamar de “pequeno”. Onde se deprecia a virgindade consagrada, assumida por amor ao Reino de Deus, logo aparece a vacilação a respeito dos compromissos matrimoniais, e se propaga o amor “livre” e a infidelidade. Só onde se considera a virgindade consagrada como a realização mais elevada da vocação cristã à perfeição,  é que floresce o apreço pelo amor conjugal indissolúvel. As Religiosas e as Leigas Consagradas, que vivem  seus compromissos de castidade, pobreza e obediência, não são apenas testemunhas autênticas do amor exclusivo a Cristo e a seu povo. Mas são promotoras e referências do verdadeiro amor humano,  visível no casamento. Por seu espírito de caridade se vê que Deus existe e que quer que o amor seja a mola propulsora do mundo. Na pouca valorização da vocação matrimonial, reside a depreciação da vida religiosa.
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Fonte:CNBB

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