ÉTICA E HUMILDADE

Estamos numa temporada pré-eleitoral. Os partidos estão escolhendo os candidatos e decidindo as alianças. A opinião pública está abalada pelos escândalos dos políticos: há corrupção demais com roubos e mentiras descaradas. O partido, que se apresentava como o paladino da ética, não se mostrou melhor do que os outros.

A meu ver, uma das causas foi a presunção de alguns líderes: “Nós somos o partido dos trabalhadores; defendemos os direitos dos oprimidos, queremos fazer praça limpa dos desfrutadores. Temos uma grande missão a cumprir”.

Aí entrou a convicção de que o fim justifica os meios.

Antes, para chegar ao poder, consideraram licito angariar dinheiro com todos os meios; licito acusar todos os outros de serem desfrutadores, corruptos, burgueses. Conquistado o poder, tudo foi considerado licito pra conserva-lo: comprar deputados, arranjar mais dinheiro, mentir. É uma história que se repete continuamente nesta pobre humanidade. Ao tempo da ditadura militar, os donos do poder diziam: “Nós somos os salvadores da Pátria.” E, para cumprir esta “missão”, sufocaram os direitos políticos do povo, cassaram deputados e governadores, torturaram e mataram os inconformados. Na Itália, os fascistas diziam: “Nós somos o partido da ordem”. E, para manter a ordem bastonavam todos que faziam greves, manifestações de protesto, botando na prisão ou exilando os inconformados. Os comunistas se proclamavam defensores dos oprimidos, massacrando todos que consideravam desfrutadores, ou mandando-os nos campos da Sibéria.

Sempre a presunção virou pretexto para cometer abusos. E quando o presunçoso agarra o poder político acontecem horrores.

Esperamos que nestas próximas eleições não se apresente nenhum Salvador da Pátria. Que cada candidato se apresente com humildade, prometendo: “Não vou fazer milagres; vou trabalhar com afinco para resolver os problemas, sempre dentro das normas legais e da ética”. 

A luta política de uma democracia séria é como a luta esportiva. No esporte as torcidas torcem ardorosamente, os jogadores devem jogar com toda a energia e inteligência. Mas tudo deve correr dentro das regras do jogo. O importante não é a vitória do Corintias, do Palmeira, ou do Santos; o importante é que os jogos corram sempre dentro das leis do jogo. Aí vence o melhor, dando um belo espetáculo de jogo emocionante.  Se há violências, compra de jogadores, parcialidade na arbitragem, o jogo vira baderna, confusão, decepção para todos.

Assim é a política. O mais importante não é que vença o partido da esquerda, ou da direita ou do centro. O importante é que sejam apresentados programas concretos, tendentes a resolver os problemas verdadeiros da nação; que haja um debate sereno e objetivo sobre estes problemas, que sejam escolhidos os que apresentaram o programa mais objetivo e se mostram mais  capacitados para executa-lo.

E não é importante escolher somente o Presidente e o Governador; eles devem governar dentro da lei, que exige colaboração do Legislativo. Se este organismo for composto por membros que trabalham somente dois dias por semana, que se preocupam principalmente em ganhar mais dinheiro para fazer mais propaganda pessoal, que votam na base do: “O que me dá o governo em compenso dos meus votos?” Com gente assim o Brasil irá de mal para pior. Acho importante que quem vota por um Presidente ou governador, vote também para o partido dele, para que possa ter uma grande bancada que o apoia na execução do seu programa, ficando livre da chantagem dos anões, os partidos pequenos, que arruínam todas as democracias.

Pe. Pio Milpacher
Congregação de Jesus Sacerdote
Osasco – SP

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