O dia das Mães

Comemorou-se, em Portugal, no 1º Domingo de Maio o Dia da Mãe. O costume de dedicar um dia por ano a honrar a Mãe remonta à antiguidade romana. Nesse dia as mães eram levadas ao Templo e coroadas de rosas.

 

No século XX, nos Estados Unidos, em Bóston e Kentucky, num dia do ano os filhos manifestavam de um modo especial, às mães o amor que lhes tinham. Anna Jarvis, abalada com a morte da mãe, iniciou um movimento para estender esse costume a todos os Estados da América. O Senado aprovou a ideia em 1913 e inúmeros países, entre eles Portugal, imitaram este modo de proceder.

 

Durante largos anos o Dia da Mãe era celebrado entre nós no dia 8 de Dezembro, festa litúrgica da Imaculada Conceição de Nossa Senhora. Infiltrando-se pouco a pouco um certo espírito não cristão, muitos deixaram de reconhecer esse dia como o dia em que se festeja um dos privilégios de Nossa Senhora – a sua Imaculada Conceição, ou seja, Maria foi concebida naturalmente como qualquer outra criatura, só que imune do pecado original. Para evitar que a festa de Nossa Senhora caísse no esquecimento por muitos, a celebração do Dia da Mãe foi transferida para o primeiro Domingo do mês de Maio, excepto se esse dia for o Domingo de Pentecostes.

 

E qual a razão de se exaltar de modo quase universal a Mãe? Essencialmente porque, pela Maternidade, a mulher participa no poder divino de transmitir a vida e também, como diz Lovich Ilona: “ser mãe quer dizer receber um filho das mãos de Deus; quer dizer entregar a vida inteira, aniquilar-se até à fraqueza e à humildade”. Há uma lenda que conta o seguinte: um jovem bastante pervertido, desejava que a mãe morresse para poder usufruir do dinheiro que receberia como herança. Um dia, num acto de loucura, mata a mãe, abre-lhe o peito e arranca-lhe o coração que mete num cofre. Depois corre em direcção a um bosque para aí enterrar o cofre. Ao correr tropeça e cai. Nesse momento, de dentro do cofre ouve-se uma voz carinhosa perguntar: “Magoaste-te, meu filho?”. É uma lenda, mas ilustra até onde vai o amor de Mãe.

 

A força do amor materno deve-se em parte à comunidade de sangue entre mãe e filho durante a gravidez e que depois continua na amamentação, considerada um “complemento da gestação”. No livro A Mãe do Cardeal Mindszenty podemos ler este relato impressionante. Um explorador quando regressava de uma expedição encontrou uma mãe índia, cheia de sangue e com muitas feridas. Depois de a tratar perguntou-lhe a razão do seu estado. A mulher contou que a sua tribo estava em guerra com uma outra e ela teve de fugir com o seu filhinho pequeno. Faminta pois há muito não comia secou-se-lhe o leite e não podia amamentar o bebé. Então com um anzol arrancou a sua própria carne, fez dela isca, pescou uns peixes que comeu e assim conseguiu voltar a ter leite para dar ao seu menino que estava a morrer de fome.

 

A vocação de Mãe é uma vocação de serviço e de amor e “(…) ao ser-nos revelado que Cristo passou nove meses no seio puríssimo «duma Mulher», podemos afirmar que Nosso Senhor santificou a maternidade e a gestação: também as redimiu – como todas as realidades humanas honestas – e as elevou a uma dimensão nova, dotando-as de um sentido ainda mais sublime” (Maternidade e Vida – À luz do Evangelho, de João Paulo Pimentel.

Edições Diel – Lisboa).

 

Mas a mulher é um mistério; mesmo sem ser mãe no sentido biológico é possuidora de características especiais, como a ternura e a sensibilidade, superando de longe o homem. As potencialidades da Mulher não se esgotam, porém, na Maternidade: houve mulheres diplomatas e políticas como Lívia esposa do imperador Augusto ou Luísa de Sabóia e Margarida de Áustria; guerreiras como Emília Plater, porta-estandarte na guerra da libertação polaca; cientistas como Madame Curie, Karoline Herschel, astróloga, que descobriu cinco novos planetas, escritoras como Selma Lagerlof que tem as suas obras traduzidas em trinta línguas, etc.

 

Mas nada disto fez diminuir o sentido da Maternidade e muitas delas conseguiram compatibilizar as coisas não deixando de se guiar pelo coração e pelo instinto de captar uma alegria ou uma dor banais – são mais sensíveis à esperança e ao temor.

 

József Eotvös escreveu numa das suas obras: “Desde que a mulher se torna Mãe, já não sabe esperar nada para si; começa uma vida nova e a sua alma, a partir desse instante, já não vive para o seu próprio amor. Renunciou ao mundo, morre para si mesma, para criar para um pequeno ser um mundo novo, o lar. Aqui busca e encontra o fim da sua vida, o seu único tesouro e a sua última plenitude: o filho, que é a alegria do seu coração, a alma da sua vida, a coroa da sua esperança, o seu único e o seu todo”.

 

 

O Dia da Mãe é um dia de festa e de gratidão dos filhos para com aquelas que lhe deram a vida, mas não posso deixar de me referir, com mágoa, àquelas mulheres casadas que voluntariamente fecham as fontes da vida. Não chegam a ser mães e se o são, por erro de planeamento, só o são biologicamente e não atingem o estatuto que engrandece a mulher – a Maternidade verdadeira e aceite de um modo gozoso. Com muito maior mágoa, também não quero deixar de referir aquelas que são capazes de assassinar o próprio filho não nascido, praticando o aborto.

 

Não são para estas as palavras de Matilde Rosa Araújo em O livro de Tila:              Mãe! /  Que verdade linda  /  O nascer encerra. /  Eu nasci de ti,  /  Como a flor da Terra. 

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