Ciência e religião

Li ontem numa revista, que se pretende científica, um artigo segundo o qual a ciência estaria baseada nos conhecimentos adquiridos com muitos estudos do mundo, da natureza, da história, com busca de provas rigorosas, enquanto a religião seria uma crença baseada numa fé, que é imposta, não se discute nem se prova,nem evolui. Conclui então que só a ciência deve ser ensinada nas escolas, não a religião, porque não é científica e não aceita de ser questionada.
Há muita confusão em tudo isso. Para colocar os problemas de modo certo, devemos partir da nossa natureza: somos levados a observar o mundo, tudo o que está ao nosso redor e dentro de nós, a refletir para entender e assim regular melhor a nossa conduta.
Somos curiosos e desde a infância multiplicamos as perguntas: “De onde sai o sol que desponta de manhã e desaparece de tarde do outro lado? De onde vem a chuva e o vento? Onde estava eu antes de nascer e onde foi o avó que morreu?”
Continuamos a perguntar, até que encontramos respostas satisfatórias. Qualquer enigma nos desafia, como Newton que, passeando no pomar numa noite de lua cheia, ao cair diante dele um fruto de uma árvore, olhando para o alto e vendo a lua lá em cima se perguntou: “Porque o fruto caiu da árvore e a lua não cai do céu?” Pensou, estudou, calculou por mais de vinte anos, até que descobriu a fórmula da força de gravitação universal, que rege todo o movimento cósmico.
Tanto a ciência como a religião originam-se desta sede humana de desvendar os segredos do universo que nos envolve. Assim descobrimos a eletricidade e com ela iluminamos a noite, movemos máquinas gigantescas e minimotores, mas não conseguimos responder à pergunta elementar: ”O que é a eletricidade, como se explica esta força misteriosa?”
Descrevemos o funcionamento da vista, do ouvido, do coração, do cérebro, da fecundação, do desenvolvimento do feto, da reprodução das plantas e dos animais: constatamos que tudo funciona maravilhosamente, desde bilhões de anos, com um equilíbrio biológico e cósmico maravilhoso. Mas sempre mais se impõe à nossa mente a pergunta fundamental: ”Tudo começou por acaso, tudo funciona e é mantido em ordem e eficiência por si mesmo, ou deve existir atrás um Arquiteto Inteligente, todo poderoso, eterno, que começou, faz caminhar e desenvolveu tudo isso? Do nada não sai nada, a ordem exige um Ordenador, a vida um Vivente!”
Desde que o homem começou a observar e refletir, essa resposta se impôs à sua mente e começou a invocar este Ser misterioso. Carl Marx afirmou que a religião foi inventada pelas autoridades para manter sujeito o povo. Marx não sabia que a humanidade existe na terra desde mais de um milhão de anos? Não sabia que os regimes autoritários começaram na época agrícola, menos de dez mil anos atrás, enquanto os primitivos viviam e vivem ainda hoje (os poucos que ainda existem) em regimes tribais, igualitários, com democracia direta? E eles têm religião, reconhecem e cultuam seres Superiores! Também os que repetem sua afirmação nem sabem isso?
Não é verdade que a religião não evolui. Fica parada nos regimes autoritários, como na maioria dos Estados maometanos. Mas lá também há homens livres que refletem e questionam conceitos e imposições superadas.
Os povos antigos (e os cristãos também) pensavam que Deus tinha criado o mundo como o homem constrói a casa: um dia põe os fundamentos, no outro eleva as paredes, depois cobre, termina e descansa. Hoje pensamos que Deus, desde o começo da criação (15 bilhões de anos atrás? Ou 150, 1.500 bilhões?) formulou um plano de desenvolvimento ininterrupto, que evoluiu na formação das galáxias, das estrelas, dos planetas, do começo da imensa árvore da vida aqui na terra, que cresceu até produzir o homem, que progride todo dia.
 Deus não desceu na terra a semear um dia uma coisa, um dia uma outra. Está sempre na terra animando e sustentando tudo: É a alma do universo! Newton, depois de ter descoberto a força de gravitação universal, viu que é uma “uma ação a distância”, que é absurda; e concluiu que Deus sustenta tudo: “Nele vivemos, nos movemos e somos” dizia S. Paulo (At.17,28).

A religião se fundamenta nesta reflexão metafísica, que, como diz Aristóteles, é a mais alta das ciências. Suscita a admiração, que deu a arte, a poesia, o canto, a religião. O positivismo laico nega esta capacidade do homem. Isso é como um capar a nossa inteligência!

Padre Pio Milpacher
Congregação de Jesus Sacerdote
Osasco-SP

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