Os exames pré-natais ou pré-mortais?

Há poucos anos os exames pré-natais pareciam uma questão marginal, uma prática médica pouco frequente, reservada a mulheres de alto nível social. Os exames pareciam destinados a essa classe de pessoas que realizam acordos pré-matrimoniais, como se para dar amor – ou dar a vida – fizesse falta um recibo.

Agora as coisas já não são assim: atualmente o exame pré-natal converteu-se quase em regra, em vez de ser uma exceção. Assim a todas as mulheres grávidas é recomendado e facilitado o referido exame. Só que os exames são, em muitos casos, uma sentença de morte para os bebés com anomalias congênitas.

Informou em tempos o New York Times que a maioria das mulheres que decidem submeter-se a um exame pré-natal optarão também pelo aborto se o exame dá um resultado positivo, isto é, se detecta alguma anomalia no feto. Alguns estudos avançam com o dramático número de 90 %. Para nossa confusão essas mulheres são, na maioria, mães que desejam esse filho, mas com uma condição – eu desejo-te, se tu fores o bebé que eu desejo…

Realizou-se um programa televisivo e nele o médico e o técnico analista presentes apresentaram deste modo o exame pré-natal: informador e incentivador ao aborto se a mãe o desejar, caso o feto apresente anomalias. Esta espantosa e insensível exigência de qualidade é alimentada por uma escola médica que esqueceu que o seu fim é curar e não matar.

O exame pré-natal de mais segurança é feito à 16ª semana de gestação; demora 3 semanas, em média, para se saber o resultado e se for positivo e a mãe o pedir, o aborto é realizado à 19ª semana, o que não é “legal” nem sequer segundo a lei vigente que só permite o aborto até à 12ª semana. O médico, presente no referido programa, interpelado sobre a questão, afirmou que o mal estava na lei e não no aborto!

Uma das mães também convidada a depor no programa declarou que se soubesse que o seu filho era portador do síndrome de Down, abortaria; outra invocando a sua qualidade de cristã assegurou que se soubesse com antecedência que o filho apresentava anomalias congénitas o deixaria nascer e não recorria ao aborto. Esta segunda mãe, enfermeira de profissão, que invocou a sua qualidade de cristã e mulher de fé, é digna da nossa admiração, mas devia saber que o seu acto não é só fruto da sua fé, mas pertence, à partida, ao domínio da lei natural.

Nalgumas Universidades estrangeiras há Faculdades de Medicina que estão a canalizar dinheiros que antes utilizavam para alguns diagnósticos pré-natais que apenas serviam para incentivar o aborto, para programas de recuperação de crianças que nascem com qualquer deformação física ou atraso mental. Muitas destas crianças, que chegaram a ser classificadas de “monstros”, por pessoas cruéis, chegam a metas que as fazem viver a sua vida sem representarem um peso de maior para a sociedade. O mais difícil para elas foi nascer.

Não mereceria o assunto um debate mais esclarecedor? Estiveram a ver e ouvir o programa muitos milhares de pessoas. Muitas delas, sem qualquer preparação podem ter ficado deslumbradas, como quem vê o mar pela primeira vez, ou atônitas, não querendo acreditar no que ouviam. Outras ficaram receosas de que voltemos aos tempos de Esparta ou ao apuramento de raça dos nazis.

Como muito bem disse a senhora Enfermeira, que ia ser mãe, um casal não deve recear que o acusem de, ao morrer deixar um “fardo” à sociedade, caso deixem nascer um filho que à partida sabem ser portador de anomalias, porque a geração actual suporta os “fardos” da geração passada; a geração futura suportará os desta geração porque sempre assim foi e será.

Se o exame pré-natal sugere que um ser humano não é mais que um somatório de partes imperfeitas, em rigor está a dizer-nos que só alguns de nós estamos qualificados para viver.

A futura mãe não deve pensar assim, em relação ao filho: “eu desejo-te se tu fores o filho que eu desejo”.

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