25 anos à frente da Igreja: a figura carismática de João Paulo II – Maria Clara Lucchetti Bingemer

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Maria Clara Lucchetti Bingemer

Professora do Depto de Teologia da P.U.C.RJ

Coordenadora do Centro Loyola de Fé e Cultura

Neste mês de outubro, a Igreja Católica celebra os 25 anos de pontificado de João Paulo II. Em 2 mil anos de cristianismo, apenas quatro papas comandaram a Igreja Católica por mais de 22 anos. E JPII é um deles.

Sua figura atlética, de largos gestos e esvoaçantes vestes brancas que acompanhavam a agilidade do corpo que conhecia, por seu passado de ator, o segredo do palco, impressionava a todos e levantava massas no final dos anos 70. Agora, sua figura velha e alquebrada continua levantando-se quando todos pensam que vai cair e deixando mensagens que marcam o mundo e a humanidade, não apenas os católicos, diante de situações críticas.

João Paulo II deixa certamente um legado importante à Igreja que governou durante todos esses anos. Importante sob todos os pontos de vista. Mas certamente, há alguns aspectos sob a luz dos quais haveria que entender sua figura e sua missão mais do que outros:

1.Seu carisma: talvez o Papa mais carismático que já houve em toda a história da Igreja, pelo menos no segundo milênio. Sua figura atraiu jovens e adultos, crianças e velhos, convertendo-se no único líder mundial num momento em que a humanidade, combalida por guerras e divisões de todo tipo, necessitava ardentemente de um porta-voz, um líder em quem pudesse confiar. E João Paulo II certamente foi esse líder, com um carisma raro e uma comunicação fluida e fácil com todos os tipos de público.

2.Sua transparência: João Paulo II, desde que começou seu pontificado nunca foi homem de meias palavras. Sempre deixou muito claro quem era, como entendia sua missão, o que pretendia. Essa transparência lhe valeu não poucos inimigos, mas também e não menos a admiração e o apoio de muita gente que inclusive se reaproximou da Igreja devido a seu novo estilo de ser Papa.

3. Suas vitórias políticas: deve-se a João Paulo II conquistas extraordinárias no campo da política. Sem dúvida, a mais digna de menção seria a queda do que se convencionou chamar de socialismo real. Ao desabar em 1989 o muro de Berlim, certamente aí o mundo teve plena consciência de que boa parte daquele fato se devia à grande influência do papa Polonês, que tomara posse onze anos antes. Sofrido pelo regime que impedia a liberdade de seu povo, JP II nunca escondeu que considerava o comunismo um grande inimigo da Igreja e que faria o que estivesse ao seu alcance para afastar esse perigo de seu rebanho e resgatar seu sofrido povo polonês das garras do comunismo ateu.

4.Sua coragem: certamente este Papa ficará na memória da humanidade como uma figura de grande coragem. Em nenhuma das situações espinhosas e duras que teve que enfrentar em seu pontificado, se viu João Paulo II acuado e com medo. Nem sequer depois do terrível atentado que sofreu. Muito menos depois da doença que o acometeu e lhe foi minando paulatinamente as forças. Cada dia João Paulo II é visto mais desassombrado e consciente de sua missão pastoral, nunca recuando diante de nenhum obstáculo, nenhuma distância para percorrer o mundo pregando o Evangelho. Assim disse verdades diante de Fidel Castro e outros grandes líderes poderosos. Assim não escondeu a pouca simpatia que sentia também por correntes mais libertárias da teologia, assim estabeleceu parâmetros bem claros de sua concepção de ser católico. É evidente que assim fazendo, não podia agradar a todos. Na América Latina, teríamos talvez gostado que nos tivesse entendido mais como Igreja dos pobres. Teríamos gostado de vê-lo e senti-lo tão aberto e receptivo para dentro da Igreja, com as normas disciplinares e a moral pessoal como o sentíamos aberto para fora, com seus documentos e cartas de cunho mais social.

Certamente , João Paulo II é e será sempre um Papa inesquecível. Deixando inúmeros documentos escritos, seu pensamento ainda acompanhará a Igreja por um bom tempo. Sua figura um tanto contraditória provocou adesões apaixonadas dos que sentiram que finalmente estavam reencontrando sua identidade católica, perdida nas ondas secularizantes do Concílio Vaticano II. Por outro lado alguns sofreram bastante com suas normas disciplinares e a sensação de que a Igreja recuava com relação ao Concílio e andava para trás no terreno já conquistado.

No entanto, ao celebrar esses 25 anos de pontificado, não podemos ficar , nós católicos apenas ao nível epidérmico do que nos agrada mais ou menos. Cabe-nos olhar esse longo pontificado, contemplar a figura sofrida e alquebrada desse velho homem a quem acreditamos que o Espírito Santo jamais nega sua assistência. E sentir: “ É bom ter um Pai.” E rezar: “Senhor, te damos graças pela vida tão fecunda de teu servo João Paulo II” . E dizer-lhe, no segredo do coração, esperando que o Espírito do Senhor se encarregue de fazer-lhe chegar a comunicação: “ Obrigado, Santidade! E parabéns!

Publicado no Amai-vos 2003

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