Oração do Caminhante

PALAVRAS DE D. EUSÉBIO OSCAR SCHEID

ARCEBISPO DA ARQUIDIOCESE DO RIO DE JANEIRO

 

ORAÇÃO DO CAMINHANTE

 

Senhor Jesus, só agora, é que eu dei por isso, me dei conta:

Sempre estou a caminho, sou peregrino, viandante…

Parece que esta é a condição da criatura humana:

Ela não pára, ela se desloca, avança, progride.

Assim, eu procuro, anelo, busco, anseio, sinto-me impelido.

Por que isso? Talvez seja, Senhor, o peso do infinito que me atrai.

Talvez seja o amor infinito.

Que lá da eternidade me imanta,

Me leva a caminhar ao seu encontro.

O que me deixa insatisfeito, inquieto e “movediço”,

parece ser a sede de uma felicidade que não tenho,

a procura de uma perfeição que se exige do meu ser.

Senhor, qual é, enfim, o rumo certo da felicidade?

Qual é o atalho, qual a rota que leva à perfeição?

Quero fugir, evadir-me da acomodação, talvez inanição…

Da inutilidade inerte, da auto-suficiência: fujo do meu próprio “eu”.

Por vezes, Senhor, me pergunto:

Esta caminhada me levará para vida ou para a morte?

Para as trevas ou para luz…

Será que sou guiado, como os sábios do Oriente?

Por uma luz misteriosa e profética…

Será que esse mover-me, essa procura,

Há de levar-me para a harmonia final?

Ou para a confusão total, para a paz,

Ou para uma incerteza e tranqüilidade ainda maior?

Nunca estou contente com a posição que ocupo.

E é bom assim, porque procuro a ultrapassagem,

O progresso, o avanço, a vitalidade…

Há evidentemente o perigo das curvas,

Das encruzilhadas, dos precipícios e sumiços…

Dos falsos colegas de jornada, e as quedas.

As terríveis quedas.Há que levantar e prosseguir.

Senhor, e se eu não atinar com a estrada certa,

Se eu falhar o encontro marcado?

Claro! Se o rumo depender só de mim,

e se todo o esforço couber só a mim,

infalivelmente irei perder-me em rumos desnorteados.

Não posso, contudo, vagar sem rumo, apenas deslocar-me;

Não é lícito ultrapassar o sinal vermelho, “andar na contra mão”.

Quando eu penso na história daqueles que caminharam

Bem melhor do que eu,

Ouço o gemido de saudade de tantos,

iguais a mim em muitas coisas e tão diferentes na maioria delas.

Diz-me Santo Agostinho:

“O meu coração está irrequieto, até que descanse em vós, ó meu Senhor”.

O Salmista prorrompe num gemido.

“Tenho sede, grande sede de vós como a terra seca e tórrida do sertão”.

“Eu morro porque parece que a minha morte nunca chega”.

Sinto saudades do infinito…

Minha saudade, já é um pedacinho da chegada,

leve antegozo de um desfrutar sem fim.

E que terrível quando cai à noite!

A noite, nas caminhadas, me deixa assustado, me desnorteia,

piso em falso, tropeço, escorrego…

Devo parar, em meio a tantas angústias,

na confusão dos questionamentos,

Senhor, na dúvida das andanças.

Oh! Felicidade! Agora eu ouço claramente a vossa voz:

“Eu sou o caminho, segui-me!

“Quem me segue não anda nas trevas”.

“Ninguém chega ao Pai a não ser por mim”,

“Eu estarei contigo todos os dias até a extrema consumação

dos séculos”.

Obrigado, Senhor! Agora parece que atino com o sentido

Tu me deste o entendimento, a fé.

E é a fé que me faz caminhar,

porque ela é ativa, é impulsiva e inventiva.

Tu mesmo és estrada, o impulso o companheiro,

o “viático”, o cicerone, o pioneiro, o seguro guia.

Mas, esse caminho terá um fim…

Um dia, Senhor, eu estarei completamente parado,

sem movimento inerte, estarei desfalecido, morto…

Naquela hora, os meus pobres colegas,

uns talvez com lágrimas nos olhos,

colegas de jornadas incontáveis rezarão por mim,

sobre mim: “Descanse agora em paz”!

Que naquela hora, Senhor, a hora aparentemente trágica,

talvez a mais solene,

eu possa ser recebido nos pórticos eternos da tua casa,

com o suave convite do teu amor sem fim: “Vem”!

Caminhante cansado, vem! Peregrino do eterno,

vem, bendito do meu Pai!

Toma posse do reino, reservado para ti,

desde que o mundo foi criado. Ele é teu.

Aceita-me Jesus como cigano,

Mas, que eu possa chegar, junto de vós na hora certa,

No dia certo, do jeito certo, e… com alegria e sem medo.

Porque, só tu estás junto de mim,

a meu lado, dentro de mim. Só tu me levarás ao bom termo:

Os teus braço de amor infinito. Amém!

 

Voz do Pastor

 

Publicado pela Arquidiocese do Rio de Janeiro

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