Água, Fonte de Vida

Dom Luciano Mendes de Almeida,
Arcebispo de Mariana (MG)

Realiza-se pela 40ª vez a Campanha da Fraternidade, que tem por tema, neste ano de 2004, fraternidade e água. O lema “Água, Fonte da Vida” coloca em evidência a necessidade da água para a sobrevivência da humanidade.

Não existe vida onde não há água. A água compõe 70% do nosso corpo. O ser humano não pode ficar mais de quatro dias sem ingerir água. A Organização Mundial da Saúde ensina que precisamos de 40 litros de água por dia para manter a saúde. As estatísticas divulgadas pela CF indicam que 1,2 bilhão de pessoas não dispõe de água potável. No Brasil, 31 milhões carecem de água de qualidade. Infelizmente, nos países mais pobres, uma entre cinco crianças morre antes dos cinco anos por causa de doenças relacionadas com o uso da água.

Assim, o objetivo da CF é mostrar que precisamos respeitar a natureza e preservá-la como dom de Deus para o uso nosso e das gerações futuras. A ONU alerta-nos, afirmando que em 2050 -talvez antes- 40% da humanidade terá de enfrentar graves problemas devido à poluição das águas. Vem aumentando a escassez de água doce devido à devastação das matas e à contaminação dos mananciais por resíduos industriais e agrotóxicos e por dejetos urbanos.

Segue-se daí outro objetivo da CF, que é a urgência de mudança de atitudes e a educação para o bom gerenciamento das águas, incluindo o controle pessoal, a ação contra o desperdício e a elaboração de política pública que assegure a preservação da água e o seu reto uso.

A problemática das águas é vasta e envolve a legislação brasileira em relação à gestão dos recursos hídricos, à geração de energia elétrica e ao complexo desafio da construção de barragens, que tem implicações econômicas e sociais além de outras exigências. A CF encontra a motivação mais profunda no mandamento evangélico do amor fraterno, que deve despertar em todos o dever de garantir esse bem indispensável à vida.

Para os discípulos de Jesus Cristo, a água adquire valor especial à luz do sacramento do batismo. Além de ser um rito de purificação, incorpora-nos em Cristo e na Igreja, levando-nos a viver a filiação divina e a fraternidade sob a forma de serviço ao próximo. Isso significa, em primeiro lugar, o cuidado da vida para todos e a necessidade de salvaguardar o ecossistema, as águas, o solo e os ares, que são dádivas divinas e patrimônio comum. Inclui ainda a solidariedade fraterna e a co-responsabilidade em assegurar, como direito universal, água suficiente e de qualidade para todos os filhos de Deus.

Entre os muitos gestos concretos que a Campanha da Fraternidade há de suscitar, alguns são urgentes. Assim, nas áreas do semi-árido, é preciso intensificar a captação da água da chuva. Mais de 800 entidades estão unidas para realizar a construção de 1 milhão de cisternas de água potável. Nas periferias e nas favelas, temos de conseguir água tratada para todos. É necessário ainda cooperar para a preservação dos rios, mananciais e mangues.

Um dos maiores tormentos é a sede. Há algumas semanas, por castigo, foi cortada a água dos presos na delegacia de uma cidade vizinha. Esse procedimento é desumano. Água não se nega a ninguém. Que a vontade sincera de garantir água para todos seja expressão diante de Deus do compromisso cristão de promover a vida plena para os irmãos e irmãs!


Disponibilizado pela CNBB em 30/1/2004

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