Em Meu nome

(Mt 18,20)

O nome não é uma simples etiqueta. Esta é uma convicção incontestável no mundo inteiro. O nome de uma pessoa, ou aquele dado a coisas, revela algo de essencial. O nome não é apenas uma designação. O nome expressa o mais profundo, o sentido. No nome se espelha a experiência de uma força e de uma vontade. O nome, por isso mesmo, não é algo abstrato. Pronunciado o nome evoca-se a profundidade, o ser. Assim, o nome é uma força estreitamente conectada com quem o carrega, fazendo conhecer o seu mais profundo, com seus diferentes alcances. Quando, pois, o nome é pronunciado, ou invocado, a ‘energia potencial’ existente é transformada em ‘energia atual’. Aos discípulos, Jesus adverte sobre a importância da invocação do seu nome.

No nome uma força

Israel e outros povos sempre foram conscientes de que no nome está escondida uma grande força. Muitos nomes têm na sua etimologia uma explicação do alcance do seu significado. Quando isto não ocorre, o nome adquire daquele que o recebe o seu significado maior. Assim, quando se pronuncia o nome de uma pessoa, o que ela é vem numa profunda evocação e atualiza grandes e profundas significações. Há nomes que geram recordações, saudades, reavivam sentimentos, atualizam propósitos, produzem compromissos. Esta dinâmica, no interno de cada nome, tem seu ápice no nome de Deus. A tradição hebraica compreendeu esta realidade tão profundamente que chegou à proibição de se pronunciar o nome de Deus. Não pronunciar em vão o nome de Deus.

Um nome, uma pessoa

Jesus ensina aos discípulos um segredo de seu seguimento. Sublinha a importância insubstituível da comunidade. O outro é indispensável. Por isso diz, ‘onde dois ou três estiverem reunidos’. Não é alguém sozinho. Os outros são muito importantes. Esta é uma exigência insubstituível. O centro não é cada outro, a não ser Ele, o Senhor, o totalmente outro. Sua presença é a garantia. A garantia particularmente da capacidade de perceber para além de si mesmo, assumindo o desafio de colocar-se à procura do mais importante. Na verdade é uma obra. A obra é de Deus, por ele realizada. Na verdade, Jesus indica o quanto é necessário desenvolver a capacidade de perceber e estar voltado para a presença de Deus. O ápice de se estar reunido ‘em nome do Senhor’ é atingir a condição do amor. Só na força deste amor é que se realizam os milagres e as grandes intervenções redentoras e libertadoras de Deus na vida de homens e mulheres.

 

O nome revela e opera

Aos seus discípulos Jesus indica onde está a fonte de sua força: no seu nome. Seu nome exprime a força de sua humanidade quanto a sua missão divina. Ser e fazer ‘em seu nome’ é ancorar-se na sua soberania, um mergulhar no seu mistério. Em seu nome é sinônimo de em sua força. Esta convicção é verdade fundamental da dinâmica da fé. É um processo de inserção na vontade de Deus que clareia a presença do outro pela luz da presença amorosa de Deus. Assim, quando os discípulos agem ‘em nome de Deus’, eles realizam pela força de Deus. Torna-se forte a certeza de que a força de uma ação que transforma vem do coração de Deus, do seu nome. O seu nome é a garantia, a fonte.

A busca da reconciliação

Jesus não deixa margens aos discípulos no sentido de incorrer numa ilusão, pensando que a força a eles garantida seja para uso em interesses próprios e particulares. O coração humano tem esta tendência. Com facilidade usa o que lhe é disponibilizado para atendimento dos seus interesses. Não é incomum perder a capacidade de ver, em primeiro lugar, a necessidade dos outros. Não é esta a lógica que preside as escolhas e pauta os comportamentos individuais. Mas o Mestre desenha no horizonte dos seus discípulos o caminho pelo qual se chega à força do total de Deus: a reconciliação. Outra não é a razão da força total de Deus, revelada por Cristo. A força total de Deus desce ao coração da história a serviço da reconciliação. Sua manifestação mais nobre e mais completa, frutificando, na história humana se dá na condição existencial de cada um, possibilitando a todos compreender que a missão maior é a reconciliação consigo mesmo, com os outros e com Deus, o totalmente outro. A força de Deus é força para a reconciliação. Recebe esta força quem se abre, permanentemente, à reconciliação.

A busca do outro

Não há outra saída para se experimentar a força de Deus. É ilusório continuar a procurá-la sem viver a referência diária do outro. Nem mesmo basta o outro eleito segundo os próprios critérios, selecionando as escolhas. O outro é cada outro. Inclui também aqueles que resistem, se opõem, pensam diferentemente, até perseguem ou se fecham. A fé, percurso experiencial que insere no mais profundo da fonte que o nome revela, não põe de fora, por conta de sua autenticidade, nem mesmo os incômodos, indignos ou os escandalosos. Não há lugar para preconceitos, nem justificativas para discriminações ou distanciamentos que validem sentimentos de pouca fraternidade.

Reunidos em seu nome

Este é o grande compromisso. É o compromisso de reunir-se pela força da bondade do Senhor, superando as conveniências costumeiras e as disputas infrutíferas. O desafio, e ao mesmo tempo a facilidade, é capacitar-se para compreender o mistério do outro e as relações fraternas à luz do mistério da presença de Deus. Abre-se, em conseqüência, um horizonte novo. Este horizonte novo é o nascimento da comunidade. Esta comunidade se torna o lugar da presença de Deus. A dinâmica do seu funcionamento revela os valores do evangelho, garantindo e promovendo a vida, na experiência incansável de estar à procura da vida que não passará jamais no reino definitivo. Esta garantia só existe para quem aposta e se esforça para manter vínculos de fraternidade, e se sustenta na força da oração, fomentando a comunhão e fecundando toda ação apostólica.

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